CARTA
MCC BRASIL – JULHO 2106 (203ª.)
“E Deus viu tudo
quanto havia feito, e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia.
No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que
tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera.
Deus abençoou o
sétimo dia e o santificou,
pois nesse dia
Deus repousou
de toda a obra
da criação” (Gn 1,31a; 2, 2-3).
Queridos leitores (as), irmãos e
irmãs,
Neste mês de julho, mês de férias,
inspirando-me na Palavra de Deus e no parágrafo 237 da Encíclica do papa
Francisco “LAUDATO SI’ – LS”, proponho-lhes uma breve reflexão sobre o descanso
– descanso do corpo
e descanso do espírito – iniciando com o repouso de Deus criador, encontrando-nos,
a seguir, com o descanso de Jesus, com o descanso do seguidor de Jesus e de
seus discípulos e, finalmente, com o descanso das férias dos que trabalham – às vezes duramente e, com certa frequência, quase como escravos – pela própria
subsistência e a de suas famílias.

“Ó Deus, fonte de todas as coisas,
vós
enchestes o mundo de dons,
e, depois de criar o universo,
concluístes
que tudo era bom.
Terminado tão grande trabalho,
decidistes entrar em repouso,
ensinando aos que cansam na luta,
que o descanso é também dom
precioso.”
2. O “descanso” diário de Jesus. É frequente nos Evangelhos a
referência ao “descanso” de Jesus depois de um dia agitado no meio das
multidões que o seguiam, ávidas de sua palavra e dos milagres que operava. Mas,
atenção! Não confundir “descansar” com dormir ou com espreguiçar-se... O
verdadeiro descanso noturno de Jesus consistia em orar ao Pai, em dialogar com
Ele. Seu isolamento tinha um objetivo: orar. Alguns exemplos: “Depois de despedi-las (as multidões) subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu,
e Jesus continuava lá, sozinho” (Mt 14,23). Ainda: “De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu
rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava” (Mc 1,35).
Sugestão para reflexão pessoal e/ou em grupo. Nos ambientes onde
decorre a sua vida, especialmente no familiar, normalmente tão ruidoso (rádio,
TV, novelas, noticiário, publicidade, etc,), você tem encontrado algum momento
para, como Jesus cujo caminho você jura seguir, “subir ao monte”, isto é,
buscar algum momento de tranquilidade para orar “a sós”? E sua oração é
daquelas nas quais você só repete aquilo que outros compuseram e que você até
sabe de cor, ou é um diálogo onde você deixa que Deus fale e você escuta a Sua
voz? Aliás, você já fez aquela experiência maravilhosa da “lectio divina” ou
seja, da leitura orante da Bíblia, Palavra de Deus?
3. Jesus convida seus discípulos para descansar. Como nós, os
discípulos de Jesus, andavam sempre envolvidos pelos momentos barulhentos da
multidão que cercava Jesus. Eram, mais ou menos, como seus guarda-costas,
atentos para que o Mestre não fosse empurrado, esmagado por aquele povo. Por
eles Jesus também se preocupava, convidando-os, vez por outra, a subir ao monte
com Ele. Com eles, praticava um breve “retiro
espiritual”: “Os apóstolos se reuniram
junto de Jesus e lhe contara, tudo o que tinham feito e ensinado. Ele lhes
disse’ Vinde a sós, a um lugar deserto, e descansai um pouco’. Havia,
de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer.
Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós” (Mc
6,31). Em outra perícope bíblica lemos: “Jesus estava orando, a sós, e os discípulos estavam com ele”(Lc
9,18). E, num outro momento importantíssimo na vida de Jesus e para formação
dos discípulos, o momento da Transfiguração, lemos que “Uns oito dias depois destas palavras, Jesus levou consigo Pedro, João e
Tiago, e subiu à montanha para orar” (Lc 9,,28).
Sugestão para reflexão pessoal e/ou em grupo. Você tem participado
de algum retiro espiritual, ainda que breve, promovido por sua comunidade ou
por seu movimento? Se sim, valeu a pena? Porque? E se ainda não participou,
ouve alguma razão mais forte para não fazê-lo? Porque não aproveitar momentos
tão preciosos, como o foi para os discípulos de Jesus-Mestre o quando se
apresentar a ocasião? Aliás, porque você ou o seu grupo não tomam a iniciativa
de organizar um retiro espiritual, mesmo que seja somente num fim de semana?
Nas férias, por exemplo?
4. O descanso semanal do seguidor de Jesus: a Eucaristia. Se no
Antigo Testamento a observância do descanso no sábado era um preceito, depois
de Jesus, para seus seguidores, menos do que um preceito, e muito mais como uma
manifestação de amor, o domingo é a memória celebrativa de sua ressurreição.
Por isso, cada domingo é uma páscoa santificada pela celebração da sagrada Eucaristia.
Neste ponto, melhor do que ninguém, assim se expressa na LS o papa Francisco: “A participação na Eucaristia é
especialmente importante ao domingo. Este dia, à semelhança do sábado judaico,
é-nos oferecido como dia de cura das relações do ser humano com Deus, consigo
mesmo, com os outros e com o mundo. O domingo é o dia da Ressurreição, o
“primeiro dia” da nova criação, que tem as suas primícias na humanidade
ressuscitada do Senhor, garantia da transfiguração final de toda a realidade
criada. Além disso, este dia anuncia “o descanso eterno do homem, em Deus”. E
continua: “O repouso é uma
ampliação do olhar, que permite voltar a reconhecer os direitos dos outros.
Assim o dia de descanso, cujo centro é a Eucaristia, difunde a sua luz sobre a
semana inteira e encoraja-nos a assumir o cuidado da natureza e dos pobres” (LS
237).
Sugestão
para reflexão pessoal e/ou em grupo. A missa dominical é para você uma obrigação porque se você não for estará cometendo
um pecado grave ou é a manifestação do mais puro amor que você nutre por Jesus
e pela sua comunidade eclesial? Sua
presença na celebração da Palavra e do Corpo e Sangue de Jesus é uma presença
participativa ou meramente de “corpo presente” ou é motivo de aborrecimento,
contando os minutos para chegar o momento em que o celebrante diz: “Ide em paz.
Que o Senhor vos acompanhe”? Ou você é daqueles para os quais o celebrante
poderia dizer: “Ide em paz e que o Senhor vos alcance”?
5. O descanso das férias. Penso valer a pena terminar nossa reflexão, aplicando
às férias dos que podem usufruí-las, ainda a palavra do papa: “Assim, a espiritualidade cristã integra o valor do repouso e da festa.
O ser humano tende a reduzir o descanso contemplativo ao âmbito do estéril e do
inútil, esquecendo que deste modo se tira à obra realizada o mais importante: o
seu significado. Na nossa atividade, somos chamados a incluir uma dimensão
receptiva e gratuita, o que é diferente da simples inatividade. Trata-se doutra
maneira de agir, que pertence à nossa essência. Assim, a ação humana é
preservada não só do ativismo vazio, mas também da ganância desenfreada e da
consciência que se isola buscando apenas o benefício pessoal” (LS 237).
Sugestão: Porque não aproveitar este tempo de descanso de férias e
do Ano Santo ou Jubileu da Misericórdia para visitar algum templo em honra de
Nossa Senhora de sua cidade ou de sua Diocese no qual você possa passar pela Porta
Santa? A Mãe irá acompanhá-lo (a)!
Deixo-lhes com muito carinho e amizade
meu abraço amigo e irmão,
Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal do GEN