“Sendo seus colaboradores,
exortamo-vos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz:
‘No momento favorável, eu te
ouvi, no dia da salvação, eu te socorri’.
É agora o momento favorável, é agora
o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).
Sempre muito
queridos e lembrados leitores e leitoras, companheiros e irmãos de jornada pelos
caminhos de Jesus rumo à Páscoa da Ressurreição: paz, coragem e fé para o
coração de todos!
Antes
de começar a redigir esta carta mensal para o mês de março, durante alguns dias
fiquei em dúvida sobre qual poderia ser o tema para nossas reflexões. Levemos
em conta que os primeiros meses do ano costumam ser sempre oportunos para
lançar algumas iluminações sobre algum projeto de vida à luz da Palavra de Deus
e do seguimento no caminho de Jesus, tendo como pano de fundo os gestos
fundamentais deste tempo: “a oração, o jejum e a esmola”. Nesse sentido, a
Igreja no Brasil, convida os católicos para participar da Campanha da Fraternidade
que neste ano, tem como tema: “Fraternidade:
biomas brasileiros em defesa da vida” e como lema: “Cultivar e guardar a criação”.[1]
Finalmente,
nesses últimos dias, decidi tratar, ainda que sumariamente, conforme permite
nosso limitado espaço, sobre o riquíssimo tempo que, coincidentemente neste ano,
tem início no começo de março. E não poderia ser diferente, pois iniciam-se com
o período quaresmal, as celebrações centrais do mais profundo e significativo e,
por isso mesmo, mistério central de nossa fé. Trata-se da Paixão, Morte e Ressurreição
do Senhor Jesus. Assumindo a natureza humana como manifestação do amor do Pai, por
amor, durante todo o tempo de sua vida “por
toda a parte, ele andou fazendo o bem e curando a todos...” (At 10, 38b);
por amor sofreu a paixão e a morte e, por amor, “Cristo ressuscitou dos mortos como “primícias dos que morreram” (1Cor
15,20), para a todos os seus fiéis seguidores ressuscitar para a vida eterna: “Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que tenha morrido viverá. E todo aquele que vive e crê
em mim, não morrerá jamais” (Jo 11, 25-26; cf Jo 6,39-40).
E
sobre o rico período quaresmal, o nosso papa Francisco envia a todos os
católicos, uma preciosa Mensagem[2].
Convido-os, pois, a nos deixarmos guiar neste itinerário por aquelas
orientações pastorais. Sobre a proposta de um foco central ou pano de fundo, a
Mensagem Quaresmal gira em torno de três momentos. Reflitamos, pois:
Foco central da
Mensagem: é a
Palavra de Deus, particularmente a relatada na parábola do homem rico e do
pobre Lázaro (cf.Lc16, 19-31). Assim se expressa Francisco lembrando a
conversão no tempo quaresmal: “Deixemo-nos inspirar por essa página tão
significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para
alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, animando-nos para uma
sincera conversão”. Já numa breve introdução, podemos ler que “A Quaresma é um
novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa da
Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos
dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus
“de todo o coração” (Jl 2,12)[3]
não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor”.
Sugestão para
reflexão pessoal e/ou em grupo. Sugiro-lhe
que, antes de continuar nossa reflexão, leia a parábola na íntegra, aplicando-a
à sociedade e à cultura que nos envolve e condiciona até nossa mentalidade e
posturas. Até que ponto uma sociedade líquida, que desconhece tantos valores
humanos, uma sociedade relativista e consumista ou uma sociedade da pós-verdade
que se baseia na mentira ou no “faz-de-conta” são figuras do rico sem nome
(estruturas injustas e opressoras), que ignora o pobre Lázaro das periferias
existenciais? As respostas poderão nos ajudar a abrir horizontes para nossa própria
conversão.
1. Primeiro
momento: “O outro é um dom”. Depois
de algumas considerações sobre a posição do homem rico e do pobre Lázaro (que
significa “Deus Ajuda”), a Mensagem afirma que “Lázaro nos ensina que o outro é
um dom, um presente de Deus”, no momento em que “nos ajuda a reconhecer, com
gratidão, o valor de uma justa relação com as pessoas”. “O próprio pobre à
porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e
mudar de vida”. E mais: “A Quaresma é um tempo precioso para abrir a porta a
cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo... Cada vida que se cruza
conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor”. E encerrando o parágrafo:
“A Palavra de Deusa ajuda-nos a abrir os olhos para colher a vida e amá-la,
sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isso, é necessário levar a
sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico”.
Sugestão para
reflexão pessoal e/ou em grupo. Já
lhe havia ocorrido que a parábola do homem rico e do pobre Lázaro poderia
ajudá-lo na sua caminhada de conversão quaresmal alimentada pelo tripé
Jejum-Esmola-Oração? Duas outras perguntas, aliás quase espontâneas: sua
mentalidade, seus gestos, suas atitudes manifestam as do rico esbanjador e
insensível? Você já havia pensado que o “outro”, sobretudo o mais fraco e pobre
é um dom, um presente Deus e não um monturo de lixo no seu caminho?
2. Segundo momento:
“O pecado nos cega”. Segue
a Mensagem lembrando-nos o tríplice pecado no qual incorreu o homem rico e ao
qual todos estamos sujeitos: “Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do
pecado que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a
vaidade e a soberba”. O amor ao
dinheiro: “A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado,
que usa”... Assim, a riqueza desse homem é excessiva inclusive porque exibida
habitualmente: “Fazia todos os dias esplêndidos banquetes” (v. 19). A vaidade: “Depois a parábola
mostra-nos que a ganância do rico o torna vaidoso. A sua personalidade vive de
aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência
serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da
exterioridade, da dimensão mais superficial efêmera da existência”. A soberba: “O degrau mais baixo desta
deterioração moral é a soberba... Para o homem corrompido pelo amor das
riquezas nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o
rodeiam não entram no seu campo de visão. Assim, o fruto do apego ao dinheiro é
uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado
na sua humilhação”.
Sugestão para
reflexão pessoal e/ou em grupo. Alertados
para o tríplice pecado do homem rico, é pelo menos honesto de nossa parte e
coerente como seguidores de Jesus que também nós neles podemos incorrer. Aqui,
por ser oportuno e por estarmos tentando viver intensamente este tempo de
jejum-esmola-oração, deixo a todos uma pergunta para reflexão: que valor você
tem dado ao sacramento da Reconciliação? E, ao procurá-lo, você o faz por
obrigação ou por amor ao Pai misericordioso, como pedido de perdão aos irmãos?
3. Terceiro momento: A Palavra é um dom. Nesse terceiro momento, depois de algumas
considerações ainda sobre a parábola do homem rico e do pobre Lázaro e já no
parágrafo final, o papa Francisco nos mostra como a Palavra é um dom: “Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem
para todos os cristãos. De fato o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a
Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os
Profetas; que os ouçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta:
«Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, se
alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31). Desse modo se patenteia o
verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra
de Deus; isso levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a
desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de
suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para
Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o
coração ao dom do irmão”.
Sugestão para
reflexão pessoal e/ou em grupo.
Se há um “tempo favorável” para a leitura, meditação e oração da Palavra de
Deus, é este tempo quaresmal. Que tempo você pretende dedicar à Palavra de Deus
nesta quaresma? Seria suficiente ouvi-la apenas numa homilia (quando essa
realmente trata da Palavra e não divaga por outros atalhos!) dominical ou com
uma leitura superficial? Sugiro a prática efetiva da lectio divina ou leitura orante da Bíblia. Garanto-lhe que será
sempre gratificante.
Conclusão da Mensagem
Quaresmal:
“Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é
o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no Próximo.
O Senhor que nos quarenta dias
passados no deserto venceu as ciladas do Tentador,
indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito
Santo nos guie na realização de um verdadeiro caminho de conversão, para
descobrirmos o dom da Palavra de Deus,
sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fieis a
expressar essa renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos
eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do
encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que,
participando na vitória de Cristo,
saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e
testemunhar em plenitude a alegria da
Páscoa”.
A
todos os meus queridos leitores e leitoras, desejando-lhes uma santa caminhada
quaresmal coroada pela intensa luminosidade da Páscoa da Ressurreição de Jesus,
com o pedido de sua oração por este servidor e amigo, deixo meu fraterno
abraço!
Pe.
José Gilberto BERALDO
Equipe
Sacerdotal do GEN MCC Brasil
E-mail: jberaldo79@gmail.com
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